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ENTREVISTA
REVISTA CRÉDITO AGRÍCOLA
Somos um
early adopter
em termos
tecnológicos.
Poderemos
também sê-lo
nas práticas
ambientais. E
nesse sentido,
contribui
– e muito
– aquilo que
nós fazemos
precisamente
aqui, que é a
Educação
Que leitura, que comentário lhe suscita
a expressiva – improvável, talvez
– procura pelo Ensino Superior,
traduzida, no novo ano lectivo, num
registo de candidaturas de que não há
memória recente?
Numa altura de afunilamento da pirâmide etária,
de menos jovens, é, no mínimo, paradoxal… Mas,
não deixa de ser bom sinal. Anima-nos constatar
que as camadas mais jovens vão dando o melhor
de si para ter acesso a níveis mais elevados
de ensino. E esse movimento que ‘escolariza’
contribuirá, creio bem, para maiores níveis de
diferenciação, ao moldar mais pessoas de uma
maneira diferente. O que significa que, no futuro,
poderemos contar com um País que não será
definitivamente o mesmo, nos seus contornos e
substância, num registo de mais conhecimento e
de pessoas formadas para actuar em novas áreas,
munidas de competências diferenciadas ou, para
ser mais exacto, diferenciadoras. Por tudo isto, é
importante haver procura – e houve, cresceu – e
oferta, que também se alargou. Resulta desse
binómio que o mercado vai-se formando. E ainda
bem que assim é, para bem do futuro. De resto,
este movimento em busca de uma qualificação,
de uma progressão, de uma ascensão, de um
posicionamento perante o mercado, tem
– insisto – forçosamente de ser diferente.
Estamos muito habituados em Portugal, desde
sempre, a ‘jogar um jogo’ que tem os dias
contados – por exemplo: eu sou licenciado em
direito, logo, tenho de trabalhar como jurista;
sou licenciado em engenharia, logo, a minha
carreira far-se-á nesse mesmo campo. Tenhamos
a lucidez de observar que a licenciatura é uma
aptidão, um conjunto de conhecimentos que nos
permite fazer coisas… mais coisas… de uma forma
mais inteligente. E, lá está, os novos tempos
levam-nos a trabalhar, a experimentar várias
áreas para além daquilo que é a nossa referência
formativa. E isso ainda não está muito assumido
no País. O facto de, por exemplo, às vezes se
pedir – e porque não? – um filósofo para uma
organização de marketing ou um psicólogo para
uma empresa que, por definição, não encaixa
nessa competência, é coisa do passado. O
mundo mudou. Todo o mundo é composto de
mudança – e isso não surgiu agora, vem de todos
os tempos, como bem sabemos e nos lembra
o soneto camoniano, que por vezes citamos e,
até, cantamos… É certo que há profissões mais
rígidas – não se pode exercer medicina, nem
advocacia, nem arquitectura, nem engenharia
sem o título correspondente. Mas existem e
emergem muitas actividades que não requerem
a respectiva competência formativa específica;
a prioridade recai sobre o conhecimento geral,
o saber, a inteligência, a visão crítica, a vontade
de descobrir, reinventar, criar, inovar e ser
autónomo. E isso, lá fora, acontece em mercados
maduros, designadamente no Reino Unido e em
vários países do Norte da Europa.
A nova geração, pensa Portugal ou pensa
Mundo?
Actualmente, um jovem que apareça no mercado
– a querer fazer o quê, não importa – e que surja
sem uma experiência internacional, terá mais
dificuldades. Porque essa experiência dá-lhe
mundo, algo de que nós precisamos cada vez
mais, outro cosmopolitismo, alguma visão aberta
das coisas. Quem só viveu aqui, quem não fez
Erasmus, quem não foi fazer um mestrado lá
fora, está – de certa forma – ainda incompleto,
precisa de ser burilado. No geral, a Universidade
portuguesa trabalha bem, é reconhecida no