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ENTREVISTA
REVISTA CRÉDITO AGRÍCOLA
Não podemos
trabalhar
à distância
uma vez por
semana ou
duas ou três
ou quando
quisermos…
Com uma
geometria
tão variável,
deixamos de
nos cruzar e
encontrar. E
aí, passamos
a funcionar
como uma ilha
ou várias ilhas…
mundo como formando boas pessoas. E isso
só nos deve orgulhar. Mas, os nossos alunos
precisam de experiências fora e os de fora
precisam de experiências entre nós. Por isso,
podemos e devemos exportar Ensino Superior;
não somos importadores de trabalhadores
formados porque os nossos salários não
são atractivos; mas somos exportadores de
referência. Por exemplo, um alemão ou um sueco,
que faça aqui um mestrado, tem tendência a
voltar ao seu país de origem, porque não aceitará
de início um salário que não ultrapassa os 1.000
euros. Agora, na exportação, sim; nós sabemos
exportar Ensino Superior, e tanto assim é que
somos procurados por países desenvolvidos. Em
que áreas? É uma procura transversal. Saúde,
Economia, Gestão e Engenharia, principalmente.
Falei da Alemanha não por acaso. Há, de facto,
muitos alemães que procuram Portugal porque
nós já vamos tendo – algo que ainda não é tão
relevante nesse país – uma tradição em Escolas
de Gestão. A Alemanha não tem tradição em
Gestão. E isso aporta-nos diferenças, mais-valias.
Acresce que, para eles, esta é também uma
oportunidade para ganhar mundo, conhecer
outros povos e outras formas de pensar.
No quadro das suas atribuições,
ao presidir à Comissão Executiva
do ISCTE Executive Education, que
resposta concreta têm as Universidades
portuguesas para dar aos alunos que
gostariam de adquirir competências a
pensar num futuro bem-sucedido?
Tenho tendência a considerar – e a comprovar
empiricamente – que, quanto mais longe estes
jovens levam o seu interesse e a sua curiosidade
intelectual, melhor se dão na vida. Não me refiro,
concretamente, aos seus rendimentos ou aos seus
salários. Mas quem é mais ávido de conhecimento
tem quase sempre mais vontade de participar em
eventos culturais, de estabelecer e aprofundar a
sua relação com a arte, de intervir em tertúlias,
blogs, até nas redes sociais, participando com
opinião. E o saber é um domínio sem fim. Hoje,
ter um curso é uma ferramenta, sem dúvida; mas
há que fazer várias aproximações à formação
em diferentes áreas, a várias discussões, a
vários debates. Até porque o mundo gira a uma
velocidade muitíssimo superior do que sucedia há
50 anos. E, portanto, não há compaixão. Para um
jovem conseguir decidir informado, tem muito
trabalho pela frente em termos de estudo, de
formação, do número de vezes que tem de voltar
às Universidades. É toda uma dinâmica imparável.
A menos que queiramos, logo que concluído o
Ensino Superior, fixar-nos num determinado lugar
e por ali ficar; o que também não é certo, nem
adquirido, nem recomendável: um dia acontece
um problema de percurso na organização – estou
a pensar, por exemplo, em restruturações – e essa
pessoa estará, muito provavelmente, entre os
alvos mais fáceis…
Ao longo de vários anos e da sucessão
de governos, o ensino tem sido sujeito
a uma série de reformas e contra-
-reformas, que, muitas vezes em
prejuízo do professor, também não
abonam a favor do aluno…
O professor tem uma responsabilidade imensa
naquilo que faz. Se erra uma vez e se pensarmos
nesse deslize multiplicado por dez, por quinze
ou vinte mil, as consequências podem ser
inimagináveis lá fora, no mercado… Além de
ao professor ser naturalmente exigido muito
cuidado com o que faz, a sua atitude constitui