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ENTREVISTA
REVISTA CRÉDITO AGRÍCOLA
um desafio permanente, no sentido em que
deve posicionar-se e actuar suficientemente
próximo e, ao mesmo tempo, distante dos
seus alunos. E este equilíbrio tem muito
que se lhe diga. Ao prefaciar o livro 67 Vozes
por Portugal – A Grande Oportunidade obra
recém-lançada com a chancela da Oficina do
Livro, reunindo textos de personalidades de
vários quadrantes da nossa vida pública, de
Adriano Moreira a Isabel Jonet, de Rui Nabeiro
a Licínio Pina entendi pertinente incluir esta
citação do escritor e docente norte-americano
Frank McCourt 1930-2009, distinguido,
designadamente, com o Prémio Pulitzer e o
National Book Award: “(…) O professor é, ao
mesmo tempo, um sargento instrutor, um rabi,
um ombro amigo, um disciplinador, um cantor,
um erudito de baixo nível, um funcionário
administrativo, um árbitro, um palhaço, um
conselheiro, um controlador de vestimentas,
um maestro, um defensor, um filósofo, um
colaborador, um dançarino de sapateado, um
político, um terapeuta, um louco, um polícia de
trânsito, um padre, um pai-mãe-irmão-
-irmã-tio-tia, um contabilista, um crítico, um
psicólogo, o último reduto (…)”. O professor
é isto. Perguntar-me-ão: é quase tudo? Para
uns, funcionará de uma maneira; para outros,
a abordagem – ou a representação – será
diferente. Entretanto e a este propósito, outra
questão poderá levantar-se: é difícil reformar
este sistema com este tipo de actores que fazem
estas coisas? A minha resposta é afirmativa:
sim, ainda que reconheça não ser, de todo em
todo, impossível.
A nossa transição digital vem acontecendo
a um ritmo que pede maior aceleração…
Mais do que uma transição, estamos a viver uma
revolução. E as Universidades absorveram isto
muito bem. Não tem havido problemas de maior.
A diferença mais notória está na (ou melhor,
na falta de) proximidade física, no sentido da
troca de olhares, no gesto, numa palavra de
conforto ou, até, num incentivo naquela habitual
formulação “força, vamos lá”… Perdeu-se um
pouco a personalização, é certo. Agora, sob o
ponto de vista tecnológico, no domínio dos meios,
da forma como se ensina – que foi modificada,
quer em termos pedagógicos, quer no número
de exercícios práticos ou da convocatória para a
participação – a adaptação aos novos tempos tem
sido objectivamente positiva.
E a vontade de aprender mais, sempre mais?
O querer saber mais é uma dimensão
interessantíssima. E o querer ser bom, também.
Os dois predicados fazem o sujeito, não direi
seguramente indispensável, mas, por certo,
incontornável. E exemplar, ao assumir, como
inegociáveis, valores e princípios.
Vê a ética compaginável com a
competitividade?
Vejo. No respeito pelo outro, na generosidade.
Num perfil para os média me pediram
A licenciatura
é uma aptidão,
um conjunto de
conhecimentos
que nos
permite fazer
coisas… mais
coisas… de uma
forma mais
inteligente. E os
novos tempos
levam-nos a
trabalhar, a
experimentar
várias áreas
para além
daquilo que
é a nossa
referência
formativa