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ENTREVISTA
REVISTA CRÉDITO AGRÍCOLA
recentemente, solicitando respostas tout court,
perguntavam-me qual a característica que eu
mais valorizava num ser humano. E eu respondi
a generosidade. Ser capaz de ser generoso mexe
com uma série de outros atributos. Apesar
dos escolhos que a vida sempre nos reserva,
as pessoas generosas têm – arrisco a dizer, por
tantos exemplos que conheço
– maior probabilidade de ser mais aceitáveis
e, inclusive, de ter um período de longevidade
completamente diferente. Falo de longevidade
profissional e pessoal.
Como vê Portugal no contexto das tão
faladas boas práticas?
Somos um early adopter em termos
tecnológicos. Poderemos também sê-lo
nas práticas ambientais. E nesse sentido,
contribui – e muito – aquilo que nós fazemos
precisamente aqui, que é a Educação. Os
portugueses têm de ser confrontados com
estes 17 Objectivos de De senvolvimento
Sustentável ODS da ONU e o e ssencial
da Agenda 2030. Temos de viver, pensar,
trabalhar com e sobre esses objectivos. E
percebermos o impacto fortíssimo que esse
compromisso tem na actividade quotidiana de
cada um de nós. A partir daí, em cada decisão
que sejamos chamados a tomar, podemos e
devemos fazer diferente.
Tem a percepção de que esta é a
cadência adequada para chegarmos
“lá” a tempo e horas?
Portugal, sendo um país pequeno, versátil,
flexível, falta-lhe cultura destas coisas. Mas
também não me parece que estejamos assim
tão longe dos países que, neste capítulo, são
referência.
A nova correlação de forças no xadrez
geopolítico mundial, as incertezas geradas
pelos conflitos regionais – sempre com
uma dimensão pluricontinental, é certo –,
as novas pandemias que a comunidade
científica prevê para mais tarde ou mais
cedo; isto dá-lhe que pensar?
Tudo isto veio pôr em causa toda uma série de
verdades que tínhamos assumido e tomado por
adquiridas. Estamos ainda a processar, só não
sei se estaremos sempre a processar bem; tenho
muitas dúvidas. Ganhámos em várias áreas, a
tecnológica fala por si, mas perdemos no lado da
socialização, no lado da amizade mais próxima,
do abraço… E não só. Mesmo naquilo que é
espontâneo das pessoas e que vai surgindo no
dia-a-dia – uma coisa é o ecrã, outra é passar
num corredor e ir beber um café com alguém.
Um CEO norte-americano, em entrevista recente,
foi categórico: “(…) Não, não, não… eu quero toda
a gente outra vez na empresa, porque aquela
espontaneidade para a inovação quando passas no
gabinete do lado e dizes ‘desculpa lá, importas-te
de me explicar isto e aquilo?’… Sucede que isto e
aquilo não está, não pode estar programado para
as 11h00 no Zoom (…)”. Por ser espontâneo. Por
fazer parte das pessoas levantar-se e caminhar
em direcção ao outro, pedir-lhe opinião ali, frente
a frente, sem interposto ecrã… Não podemos
trabalhar à distância uma vez por semana ou
duas ou três ou quando quisermos… Com uma
geometria tão variável, deixamos de nos cruzar e
encontrar. E aí, passamos a funcionar como uma
ilha ou várias ilhas, tanto faz…
Ainda assim, podemos voltar a sonhar?
Essa mensagem passa nesta Casa?
Claro. Temos de sonhar sempre. O mundo nunca
deixou de ter problemas. E, apesar de tudo, hoje
vivemos melhor do que ontem. Por isso, há que
seguir em frente. E acreditar. E realizar. E deixar
um legado, o melhor que nos for possível, às
novas gerações. Estou a pensar nos meus filhos.
Mas também nos meus alunos.
O querer
saber mais
é uma
dimensão
interessan-
tíssima.
E o querer
ser bom,
também.
Os dois
predicados
fazem o sujeito,
não direi
seguramente
indispensável,
mas, por certo,
incontornável.
E exemplar, ao
assumir, como
inegociáveis,
valores e
princípios.
A começar pela
generosidade