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SABERES E SABORES
REVISTA CRÉDITO AGRÍCOLA
CONFRARIA DA LAMPREIA DE ENTRE-OS-RIOS
À Bordalesa ou a fazer
soberana companhia ao arroz
A história da Lampreia de Entre-os-Rios é personalizada, entre outras figuras, numa
senhora, Elvira Fontes de seu nome, cujas marcas do tempo parecem fios que lhe
percorrem o rosto com fineza, quem sabe se em tributo ao famoso peixe ciclóstomo.
O sorriso, que vem de menina e moça, sublinha bem o porquê de ser conhecida – e
reconhecida – como a Virinha das Lampreias. Uma iguaria que, de Janeiro a Abril, sempre
trouxe gente a estas paragens para comprar às vendedeiras ou, mais confortavelmente,
sentar-se à boa mesa de um restaurante local e deixar o palato dizer de sua justiça
Onde o Douro e o Tâmega confluem num
abraço, fica Entre-os-Rios, freguesia do
concelho de Penafiel. Lugar generoso em
lampreia desde a Idade Média, sendo 1258 o ano
mais remoto de que há registo da sua apanha. Des-fiando
todo um rico historial que vem de longe, da-mos
um salto até 1758, quando um inquérito régio
anotava revelações do pároco local a confirmar is-so
mesmo, que “de Janeiro até ao São João 24 de
Junho se faziam pescarias grandes de lampreias e
sáveis, de cujo produto se sustentam muitos mo-radores
desta terra”.
E porque sem memória não há futuro, honrar
legado tão relevante é tarefa que vem sempre
a tempo. Em 2017, nascia, com esse propósi-to,
a Confraria da Lampreia de Entre-os-Rios.
Desde então, os confrades têm-se empenhado
na recolha de testemunhos e documentos asso-ciados
à pesca e ao consumo deste ciclóstomo.
Num desses depoimentos, Augusto Lisboa re-corda
uma pescaria “memorável”. A 3 de Mar-ço
de 1973, um dos pescadores que ficava de
noite no Rio a vigiar as redes, bateu, aflito, à
porta de sua casa. A nassa (artefacto de pesca)
estava tão cheia que poderia rebentar a qual-quer
momento. “Eu, o meu pai e o meu irmão
António levantámo-nos, corremos para lá e,
com muita dificuldade, ajudados pelos pesca-dores
da Quinta de Pensos, conseguimos tirar a