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SABERES E SABORES
REVISTA CRÉDITO AGRÍCOLA
nassa para dentro do barco, que continha 300
lampreias. Por volta da uma da manhã, colocá-mos
uma segunda nassa, que às 8h00 estava
novamente cheia”, contou o confrade, na altura
com 17 anos. “Toda a área dos taburnos zona
abrigada à popa de algumas embarcações es-tava
coberta”.
Além do registo histórico, a Confraria procu-ra
preservar o modo tradicional de preparação
e confecção da lampreia. Para ser boa, tem de
ser bem amanhada, alerta o grão-mestre Luís
Neves. “Coloca-se em água quente para tirar o
lismo matéria viscosa que envolve o corpo dos
peixes; retira-se-lhe a tripa, o fel e o fígado,
antes de a cortar às postas.” Entretanto, apro-veita-
se o sangue e junta-se vinagre de vinho
tinto, alho, sal e pimenta. É este preparado que
constitui o tempero do peixe, antes de levá-lo
ao lume com um estrugido. “Se for à Bordalesa,
serve-se com pão torrado. Se for Arroz de Lam-preia,
usa-se o caldo do refogado para cozer o
acompanhamento”, diz Luís Neves.
Nesta narrativa – recolhida e, no essencial,
redigida com os temperos da confreira e can-celária
Vera Silva – enquanto a iguaria ga-nha
corpo e alma na cozinha, o texto parece
esgueirar-se-nos das mãos, para ziguezaguear
e voltar ao início, às linhas primeiras de uma
prosa que começou no feminino. Ou seja, re-gressamos
à Virinha das Lampreias, que logo
aos 10 anos de idade, na década de trinta do
século passado, já ajudava os pais no negócio
da família. Todas as temporadas, entre Janeiro
e Abril, vendia lampreia numa casinha junto à
estrada nacional 108, que liga o Porto ao Peso
da Régua. “Para ser boa”, faz questão de reve-lar,
“a lampreia tem de estar em água corrente
durante, pelo menos, quatro dias. É uma forma
de lhe ir retirando o lodo”. Segredos de uma
iguaria com tudo para ser memorável, como a
‘augusta’ pescaria de 1973. Bom apetite!