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OPINIÃO
REVISTA CRÉDITO AGRÍCOLA
A descarbonização do sector imobiliário
Em 2018, com o seu Plano de Acção para Financiar o Crescimento Sustentável, a Comissão Euro-peia
(CE) identificou 10 passos rumo ao investimento sustentável. Desde logo definir o que é uma
actividade ambientalmente sustentável e que deu origem à chamada “Taxonomia”. Neste âmbito,
o imobiliário foi considerada uma actividade económica que deverá contribuir significativamente
para a mitigação das alterações climáticas e para a adaptação climática, entre outros objectivos de
“sustentabilidade”. O que não surpreendeu, já que o sector representa,
ainda hoje, cerca de 40% das emissões globais de carbono. Apesar do vo-lume
cada vez maior de capital disponível para investimentos ESG (Envi-ronmental,
Social, and Governance) e da maioria das empresas comunicar
que se encontra comprometida com a “sustentabilidade”, o facto é que,
no geral, estão a falhar redondamente nas suas metas ambientais, quer
na redução de emissões de carbono, quer na adopção de medidas am-bientalmente
sustentáveis associadas à sua actividade, incluindo na
oferta de produtos e serviços. Um survey recente a seis mil empresas
multinacionais demonstra que o seu nível de emissões aponta para um
aumento de quatro graus na temperatura, o dobro da meta de Paris. O
que significa que as empresas não estão actualmente a fazer o suficien-te
e, pior, não estão preparadas para enfrentar os desafios das altera-ções
climáticas (risco de disrupção decorrente de fenómenos naturais;
não acompanhamento das tendências de procura/menor reputação no
mercado, etc.) e o imobiliário não é excepção. Neste contexto, é opinião
dos players do sector que o caminho para a neutralidade carbónica se-rá
longo, mas – isso sim – é surpreendente, considerando as vantagens
face aos inconvenientes de se adoptar um real compromisso com a sustentabilidade e que vai,
logicamente, muito para além da publicação de um relatório anual (com iniciativas greenwashing)
e de algumas campanhas para tentar posicionar a marca. Um investimento adicional de 5% para
implementação de medidas de sustentabilidade num edifício, face a um imóvel semelhante onde
tais padrões não sejam aplicados, tem como resultados:
Poupanças nos custos de manutenção:
>25% no consumo energético; 40% no consumo de água; e 70% na produção de resíduos.
Poupança no seguro multirriscos de 5%;
Aumento de 6% a 11% na renda para o proprietário (benchmark de escritórios com certi-ficação
ambiental no mercado de Londres, já que em Portugal apenas 3% do stock de escri-tórios
incorporam certificações tipo BREEAM ou LEED, pese embora 58% da construção em
curso ter solicitado certificação ambiental!);
Maior atractividade comercial menores tempos de comercialização e taxas de disponi-bilidade
mais baixas.
Acrescem, ainda, benefícios associados a uma maior protecção de valor futuro do imóvel, menor
risco regulatório (ex. potencial aumento da carga fiscal para penalizar edifícios energeticamente
ineficientes ou com emissões excessivas de carbono) e uma melhoria geral do bem-estar dos ocu-pantes
associado, por exemplo, à qualidade do ar (um tema central, para famílias e empresas, no
rescaldo de uma pandemia mundial). Uma assertiva estratégia de green building e de comunicação
dos promotores relativamente aos seus edifícios, junto de Clientes, e a incorporação, por parte das
instituições de crédito, de indicadores de sustentabilidade ambiental nos seus modelos de risco
para financiamento à construção nova (ou dar prioridade à renovação de edifícios “verdes”!) e no
crédito hipotecário “sustentável”, que possibilitem potenciar a tipologia de financiamento defen-dida
pela CE, com menores custos para os mutuários – dado que o risco é tendencialmente menor
–, podem ser as alavancas que faltam para a descarbonização do sector imobiliário.
ESTRATÉGIA
ASSERTIVA DE
‘GREEN BUILDING’
E INCORPORAÇÃO
DE INDICADORES DE
SUSTENTABILIDADE
AMBIENTAL
NOS MODELOS
DE RISCO PARA
FINANCIAMENTO
PODEM FAZER
CAMINHO
TIAGO FERNANDES
GERENTE
CA IMÓVEIS
Fontes: i) JLL - Building a New Future with Sustainability; ii) Deloitte - Decarbonization of Real Estate: End-to-End Business Transfor-mation;
iii) Financial Times - Companies defy investor demands on climate change; iv) III - Green insurance