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CA SUSTENTÁVEL
REVISTA CRÉDITO AGRÍCOLA
DOS SNACKS SAUDÁVEIS
À LITERACIA ALIMENTAR
Foi quando moravam em Amesterdão que a preocupação com uma alimentação
mais sustentável começou a ganhar uma maior dimensão na vida de Maria
Antunes e de Rui Catalão. Lisboetas, ele com formação na área do jornalismo e
ela na área do turismo e cultura, são, hoje, a cara do Kitchen Dates, o primeiro
restaurante sem caixote de lixo em Portugal, e alertam para a importância de
todos, indivíduos ou empresas, contribuírem para um planeta mais sustentável
“Tudo começou com o pão”,
começa por revelar Maria.
A necessidade de quere-rem
encontrar pão de qua-lidade,
sem ingredientes adicionados
à tradicional farinha, água e sal, fê-los
perceber que practicamente todos os
alimentos que comiam eram processa-dos
e levou-os a repensar a sua alimen-tação.
“À medida que íamos mudando a
nossa alimentação, íamos cortando nos
processados e, como tal, nas embalagens
também”, acrescenta.
Os snacks saudáveis que levavam para o
trabalho, bastante diferentes da alimen-tação
dos colegas de ambos, começaram
a suscitar curiosidade, e foi então que
decidiram criar uma página no Insta-gram
– Kitchen Dates, que “não era mais
do que um encontro entre os dois na
cozinha”.
Ao gosto pela cozinha juntava-se o gosto
de receber pessoas à mesa. Impulsionados
por uns amigos cipriotas, decidiram abrir
a porta da sua casa para que mais pessoas
pudessem usufruir dessa experiência. As-sim
nasceu a ideia de ter um conjunto de
estranhos, com diferentes histórias, sen-tados
à mesma mesa para partilhar uma
refeição, como se estivessem no conforto
do seu lar, em família. “E, quando fizemos
o primeiro evento, correu tão bem que de-cidimos
que tínhamos de continuar com
a experiência”, diz Maria.
Em 2017, regressaram às origens, a Lis-boa,
e replicaram cá o que já faziam na
Holanda. Organizaram o primeiro evento
em Outubro desse ano, na sua casa, e o
conceito deu frutos e vingou. Raras fo-ram
as vezes em que os seus eventos não
esgotaram em menos de dois minutos.
“As pessoas activavam notificações no
Instagram, para poderem responder ime-diatamente,
até que chegou a um ponto
em que todos os dias nos perguntavam
‘Para quando um restaurante?’”.
Foram requisitados para fazer eventos
noutras cidades, organizaram acções pa-ra
empresas, e a procura começou a ser
de tal ordem que decidiram abrir um es-paço
próprio. E eis que o Kitchen Dates
ganha vida como restaurante, em Outu-bro
de 2019. “A nossa ideia sempre foi
manter essa lógica de casa, e, quando fi-nalmente
encontrámos este espaço, qui-semos
desenhá-lo e pensá-lo para que,
quando alguém passasse pela porta, sen-
tisse mais que estava a entrar numa ca-sa
do que num restaurante tradicional”,
contam. Abriram mantendo a lógica dos
eventos, isto é, sem a porta aberta per-
DA HORTA
PARA O PRATO
Maria e Rui só trabalham com
produtos locais, biológicos e 100%
de origem vegetal. São cerca
de 60 os produtores locais, num
raio de 50km de Lisboa, quem
os fornece. “São essencialmente
pequenos produtores, que estão
alinhados com os princípios
que nós defendemos, praticam
agricultura biológica, têm também
uma preocupação grande com os
recursos ao seu dispor”, explicam.