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CA SUSTENTÁVEL
REVISTA CRÉDITO AGRÍCOLA
Quem fizer uma refeição no Kitchen Da-tes
vai encontrar uma ementa que muda
todas as semanas. “É o que está disponí-vel,
os menus acabam por reflectir a rea-lidade
daquilo que acontece no campo, é
a sazonalidade levada ao extremo”, expli-ca
Rui. Têm, inclusive, um espaço numa
horta comunitária no Largo da Luz, fruto
de uma parceria com a Câmara Munici-pal
de Lisboa, e partilham com os outros
agricultores o composto que produzem.
E porque o conceito de partilha faz parte
da génese do Kitchen Dates, passaram da
partilha de refeições à volta de uma mesa
para a partilha de conhecimento através
de workshops, numa vertente mais edu-cacional.
“Sentimos que o nosso papel é
muito mais do que o papel de um restau-rante,
é um papel de literacia alimentar,
e queremos que as pessoas aprendam co-mo
é que se come mais sustentável, mais
saudável e mais consciente”, referem.
A propósito da importância da sustenta-bilidade,
defendem que as empresas po-dem
questionar todos os passos que dão
no sentido de se tornarem mais susten-táveis
e assumirem compromissos que
façam a diferença: “Estamos a dar às pes-soas
algo que possam ambicionar, terem
um exemplo para o qual possam olhar e
dizer ‘mesmo que eu não chegue lá, há
ainda muitas coisas que posso fazer e
que me aproximem muito mais daquele
exemplo do que o que eu estou a fazer’”.
compostar, e, com isso, gerar nova maté-ria
orgânica que possa ser utilizada para
fazer crescer mais alimentos. “Para nós, a
reciclagem não é resposta, é o último dos
últimos recursos, porque não é 100%
efectiva”, explicam.
A pandemia trocou-lhes as voltas, mas não
os fez baixar os braços. Reinventaram-se,
pensaram em novas soluções. Lançaram-
-se no takeaway e agora estão só a servir
jantares. E, desta forma, continuaram a
chegar junto do seu público – e a sentir o
retorno dessa dedicação. “Tem sido ópti-mo,
e acho que tem muito a ver com esta
comunidade que temos vindo a construir,
de pessoas que, numa fase crítica como
esta, se calhar escolhem muito bem onde
gastam o seu dinheiro, e acabam por usá-
-lo para apoiar negócios e projectos que
lhes dizem alguma coisa; temos beneficia-do
muito disso”, partilha Rui.
manentemente; passaram, depois, a ser-vir
almoços, que depressa se tornaram “a
parte principal do negócio, nessa fase”.
As boas prácticas ambientais, nomea-damente
o combate ao desperdício ali-mentar,
integram os compromissos do
Kitchen Dates. Como tal, fazem tudo de
raiz e todos os produtos servidos à mesa
são inteiramente consumidos: “Temos
um nível de preparação muito exigente,
como fazemos tudo de raiz são proces-sos
muito intensivos e demorados”. De
cada alimento tentam extrair “o máximo
de valor, de textura, de sabor, sem que
haja perda nenhuma, já dando como ga-rantido
que esse alimento, ao chegar à
cozinha, não vai trazer consigo nenhum
desperdício associado, como é o caso
das embalagens”. E quando chegam a
um ponto em que já não há nada que
possam fazer com ele, a solução final é
COMPOSTAR,
PARA MAIS TARDE
REUTILIZAR
O Kitchen Dates destaca-se ainda
por outro motivo especial: dizem
os seus criadores que é o único
restaurante em Portugal que
funciona sem caixote do lixo, e
o único no mundo sem caixote
do lixo e a trabalhar só com
ingredientes locais. “Tudo o que
entra aqui tem de ser consumido,
reaproveitado de alguma forma ou
transformado em composto, daí
termos um compostor eléctrico
que faz esse trabalho – a Eva”.