
32 CA SUSTENTÁVEL
MycoExplorer
BRAVO
É PORTUGAL
A INOVAR EM
COOPERAÇÃO
O Prémio Empreendedorismo e Inovação
CA 2020, na categoria “Sustentabilidade
na Produção e Transformação”, não
hesitou em distinguir o MycoExplorer. Um
projecto mobilizador de dois laboratórios
de nematologia. O do INIAV – Instituto
Nacional de Investigação Agrária e
Veterinária e o da Universidade de Évora.
No centro das atenções, o pinheiro-bravo
(Pinus pinaster); e, muito especialmente,
a doença da murchidão (DMP), em que
interagem três elementos críticos: o
nemátode da madeira do pinheiro; o
insecto vector que permite a transmissão
do nemátode de árvore para árvore; e a
árvore hospedeira. A Natureza, também
ela, se debate com doenças complexas.
Desafios que desassossegam e fascinam
a comunidade científica. Naturalmente…
xylophilus. Em bom rigor, “o MycoExplorer é uma
consequência do PineEnemy, e pode ser encarado
como um outcome promissor no combate à DMP,
assente na designada nature based solution, com
recurso a fungos naturalmente presentes nos po-voamentos
florestais”, sublinha, na sua explica-ção
inicial, a investigadora principal do projecto,
Cláudia Vicente, no desfiar dos vários argumen-tos
que conferem valor, pertinência, investigação
consequente e dimensão competitiva ao MycoEx-plorer.
Neste cenário, “os factores determinantes
para o início dos trabalhos de pesquisa e de desco-berta”
foram a relevância maior do pinheiro-bravo
na constituição e desenvolvimento da floresta na-cional
e o impacto dramático da DMP na biodiver-sidade
dos conjuntos florestais. Virá a propósito
assinalar que a doença foi detectada pela primeira
vez, em 1905, no Japão, tendo-se disseminado aos
países em redor – com predominância para a Chi-na,
Taiwan e Coreia do Sul –
ao longo da década de
80, atingindo Portugal em 1999. A equipa de de
investigadores que integra ambos os projectos vi-de
imagem nesta peça – da esquerda para a direita:
David Pires, Jorge Faria, Maria de Lurdes Inácio (fi-la
de trás), Maria João Camacho, Margarida Fontes,
Lourdes Silva, Leidy Rusinque, Cláudia Vicente,
distinguida pelo Prémio Empreendedorismo e Ino-vação
Crédito Agrícola, não esconde a sua mágoa
ao dizer – e reiterar – que “infelizmente, o método
mais usado para travar a dispersão do nemátode
consiste no abate de árvores doentes – ou aparen-temente
sãs – ao redor dos pontos de detecção da
doença, tendo por isso um efeito devastador nas
nossas florestas”. Sem dúvida, um desafio enorme
visando o combate à DMP; mais que uma sigla,
três letras sintetizando todo um potencial des-truidor,
ao significar, nunca é de mais lembrar, a
murchidão do pinheiro-bravo. Uma batalha que
implica o desenvolvimento de soluções inovado-ras,
aportando eficiência, ou seja, futuro susten-tável.
De acordo com a investigadora principal do
MycoExplorer, “há uma exigência científica e fi-nanceira,
apoiada por inúmeros projectos, desig-nadamente
no âmbito da Fundação para a Ciência
e a Tecnologia FCT”. Entretanto, é bom saber,
pela própria voz dos investigadores, que existe
cada vez mais acesso a equipamentos de elevada
performance, aptos a determinar, rapidamente
e com robustez, os princípios activos dos com-postos
biológicos com o potencial de controlar o
NMP. O MycoExplorer foi estruturado em quatro
fases. As duas primeiras reportam à investigação
“com as análises transcriptómica e metabolómica
Porque a ciência tem nomes, designações, referências que o comum
dos cidadãos nem sempre alcança num abrir e fechar de olhos, convi-rá
começar por estabelecer a relação que faz a ponte entre dois projec-tos:
o MycoExplorer e o PineEnemy. O primeiro – representando uma
deriva do segundo que vamos clarificar já a seguir – baseia-se na exploração
do potencial nematodicida da micoflora natural, ou seja, os fungos presentes
no pinheiro-bravo (Pinus pinaster) infectado pelo agente causador da doença
da murchidão do pinheiro (DMP), o nemátode fitoparasita Bursaphelenchus